6 Comentários
Mai 22, 2023Gostado por Valter Nascimento

me lembrei do que vem ocorrendo com a Laerte e a ânsia do público em "entender" a tirinha, ou então a dificuldade em contemplar aquilo sem entender mesmo, esperando por uma explicação, uma interpretação que cabe a outro e não também a nós como parte do processo da arte

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A Laerte pra mim é um caso clássico. A genialidade do trabalho dela é justamente essa, nem tudo faz sentido, ou faz sentido de um modo obscuro. Pode parecer profundo ou tolo, vai depender do leitor. O leitor precisa participar do processo de algum modo. Acho genial que certas tirinhas sejam repletas de "crítica social" sem que sejam diretamente uma crítica. Talvez ela seja o maior exemplo de neutralidade sublime hoje na arte brasileira. Obrigado pelo comentário.

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Mai 22, 2023Gostado por Valter Nascimento

Acho (só acho) que o legal é pensar justamente a "neutralidade" que não existe. Interessantes as considerações Valter, eu queria poder te chamar pra um papo no buteco pra gente fruir mais essa temática. Acho (de novo, só acho) que camadas que reivindicam suas vozes, geralmente são vozes que por muitos tempos não tinham permissão de existir. E as histórias que não puderam ser contadas? Quando vc reivindica um "não sentido" tbm não se entende esse sentido de alguma forma, não coloca ele justamente dentro de um sentido? Concordo, "arte não está aqui pra resolver nada", mas ao mesmo tempo ela é a resolução de muitas angústias internas. E, ainda bem que temos ela, nem sei i que seria de mim se não pudesse escrever. Enfim, em missão de paz aqui, um grande abraço. Adoro ler sua news!

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Muito obrigado pelo comentário, Helena. Seu ponto de vista é mais que necessário. A ideia é essa mesma, discutir qual a função da arte (se é que ela tem uma função), em especial da literatura, e perceber que ela pode ser sim uma voz contra qualquer tipo de opressão, mas que antes disso ela é uma voz. A neutralidade aqui é uma ideia de que nem toda obra literária precise defender algo. Mas se ela defende, tá tudo bem, desde que não seja visto como regra. Não é preciso que o autor esteja sempre na linha de fogo para explicar sua obra, ou para fazer dela um ato de reparação (ou de vingança, de cura, protesto ou de beleza). Não vejo problema algum em usar a literatura como ferramenta social, o problema é quando ela é vista apenas como ferramenta social. E sim, mesmo o não-sentido tem um sentido, mas quase sempre esse sentido é problema do leitor, não do autor. E isso é libertador, pelo menos pra mim. Um abraço.

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Mai 22, 2023Gostado por Valter Nascimento

Ideias muito interessantes, Valter. Lendo seu texto, parei para refletir e me parece que nos tempos de hoje se criou um nicho de "alta cultura" envolto na defesa de determinadas pautas contemporâneas. São pautas importantes, claro, mas que não cabem à literatura sua reparação. A arte pode conscientizar, mas acima de tudo deve expressar.

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Obrigado pelo comentário, Rafael. Acho mesmo que a literatura pode tudo, inclusive nada. E é esse "nada" que me interessa. Um abraço.

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