Você está lendo este texto dentro da plataforma Substack porque o Twitter acabou com o Revue, site voltado para a criação de newsletters no qual eu costumava escrever este boletim. A cada ano as empresas de tecnologia que comandam a internet compram e destroem dezenas de projetos interessantes, como era o caso do Revue. O assassinato mais famoso sem dúvidas é o do Google Reader, exterminado em 2013. Há quem diga que o fim do Google Reader seja o ponto zero da destruição da internet enquanto lugar plural e minimamente democrático. Faz sentido.
Tudo indica que a vida online será uma eterna fuga. A chegada de Elon Musk ao Twitter já está criando as primeiras ondas de refugiados digitais, gente buscando em outras redes um trago daquilo que o Twitter foi. Mas não tem volta, a destruição massiva de tudo o que é espontâneo e apaixonado é parte do espírito do capitalismo tardio. Está ficando cada vez mais difícil encontrar coisas novas e relevantes na web, os meios por onde a troca sincera e desinteressada de informações ocorrem estão sendo eliminados um a um em nome do engajamento. Tudo o que é legal, honesto e gratuito logo será assassinado por algum homem branco de meia idade e transformado num produto para a extrema direita.
Li outro dia que gente feliz não fica online. O universo da comunicação digital é por excelência um espaço de tortura coletiva. Nada gera mais engajamento que gente frustrada, nada produz mais lucro do que conteúdo ruim. Tentar ser legal na internet se tornou um ato de resistência. A internet, que surgiu como o anjo da renascença da era da informação está virando um feudo digital comandado por colonizadores de dados. Enquanto isso nós, os pobres vassalos desse reino de pixels, corremos para cá e para lá levando nossas tralhas feitas de textos, links, fotos e memórias.
Não sei você, mas eu ainda estou tentando ser legal na internet, isso até que Elon bata na minha porta com uma proposta irresistível. Até lá a Psicopompos continuará como a Newsletter do Valter (o nome já estava em uso e eu não consegui pensar em nada melhor). Espero que gostem e passem a novidade adiante.
Alguns links:
Francesca Woodman
Descobri por acaso a obra da fotógrafa Francesca Woodman e fiquei fascinado. Francesca produziu dezenas de ensaios solos que revelam uma incrível capacidade criativa de usar o próprio corpo como material de trabalho. A artista se matou em 1981 aos 23 anos. Confira alguns ensaios aqui.
Reescrevendo grandes obras
O site TypeLit permite que você pratique digitação e também inglês reescrevendo textos de grandes autores como Orwell, Poe e Woolf. Curiosamente, o site serve ainda como um ótimo modelo de estudo literário e de composição escrita.
Anotações e mais anotações
Se você também adora colecionar links e textos online, o Readwise é uma ótima alternativa ao já conhecido Pocket. A principal vantagem é poder anotar qualquer texto digital e ainda salvar obras em PDF para ler depois.
Você pensa que é bonito ser feio?
O designer Felipe Goes analisou de modo muito dinâmico a nossa relação com o feio, tanto nas artes quanto no design. Segundo ele:
“O feio pode assim ser o começo de algo que quer se desgarrar da ordem e do comum, uma ruptura e uma pista sobre algo que se desgastou, que já não nos apresenta algum argumento novo.”
Leia aqui.
Arte feita por robôs
Em dezembro falei em meu blog sobre a revolução iniciada pelo Midjourney no mundo das artes digitais. Já é possível criar praticamente qualquer imagem com riqueza de detalhes a partir de comandos escritos.
Ah, e já ia me esquecendo. Em 2023 meu primeiro livro de contos será publicado. A previsão de lançamento é para o primeiro semestre do ano que vem. Se você quiser reservar o seu exemplar autografado e com uma arte exclusiva, basta acessar este link.
Ótimo conteúdo. Procurando inspirações pra iniciar minha newsletter e encontrei você. Parabéns pelos materiais.